No dia 30 de Setembro de 2001, Roger Hardy, o analista do Médio Oriente da BBC escreveu um artigo intitulado “Dentro do Islam Wahhabi”. Hardy nota por si mesmo que o termo “Wahhabi” é frequentemente usado inapropriadamente para propósitos menos que honestos: “O termo “Wahhabi” é frequentemente usado muito livremente. A média Russa, por exemplo, usa-o como um termo de abuso para os Muçulmanos activistas na Ásia Central e em Cáucaso, como também na própria Rússia – a média Ocidental usa, preferivelmente, o termo vago e derrogatório “Fundamentalismo Islâmico”.
De forma lamentável, Hardy cai na mesma armadilha de apropriar ilicitamente este termo quando ele afirma que Osama Bin Laden é um “Wahhabi”: “Osama Bin Laden, nomeado pelos Oficiais Americanos como o suspeito principal dos ataques de 11 de Setembro contra a América, nasceu na Arábia Saudita e é um Wahhabi.”
O erro em que Hardy caiu aqui é que ele assumiu, que, visto que Bin Laden nasceu e cresceu na Arábia Saudita, isto exige de volta ele ser um “Wahahbi”. De facto, isto é uma conclusão superficial que tem sido mencionada repetidamente na média e merece ser refutada.
Osama bin Laden vem de uma família Iemenita que está baseada em Hadramaute, uma secção litoral de Iémen que está bem conhecida por ser a base da seita particular do Islam chamada Sufismo. O Sufismo pode ser brevemente resumido como sendo a antítese do “Wahhabismo”. O próprio Bin Laden não se preocupa com assuntos de fé (ou crença), e algumas das suas afirmações indicam que ele ainda confirma certas práticas Sufis. Ele abraçou também o Talibã como amigos íntimos e protectores, é bem sabido que a grande maioria deste grupo pertence ao Deobandismo, um movimento Sufi.
No entanto, uma diferenciação é feita entre demonstrar que Bin Laden reconhece certas práticas Sufis, e afirmar que ele é um absoluto Sufi. Dito de uma melhor forma, Bin Laden mostrou que ele não está preocupado com os mesmos assuntos de fé (ou crença) e adoração que um Salafi se preocuparia com, porque a seita a que ele pertence (Qutubismo) não faz distinção entre assuntos de fé (ou crença), desde que as pessoas adiram ao seu “movimento”.
Outro uso de um nome impróprio que tem sido também várias vezes repetido na média predominante é a noção que os Talibãs eram “Wahhabis”. Em Dezembro, no dia 10 de 2001, o escritor Ron Kampeas do jornal “The Washington Post” escreveu que o “Wahhabismo” é uma fé puritana que rejeita mudança. Uma marca (ou tipo) do Islam que dirige o Talibã…”
Isto é de facto outra grande inexactidão que indica que aqueles que repetiram estas afirmações abordaram estes assuntos intricados de um modo simplista.
Apesar do artigo de Roger Hardy da BCC ter o erro de afirmar que Osama bin Laden era um “Wahhabi”, ele, distinto de Kampeas, ficou limpo de repetir este erro quando endereçou o movimento Sufi Talibã:
“Mas o Talibã não são Wahhabis. Eles pertencem àquilo que é conhecido como o movimento Deobandi, nomeado em relação à pequena cidade de Deoband nos Himalaias Indianos. Foi aqui que o movimento foi fundado, nos anos 60, durante o período de governo Inglês na India.”
No dia 9 de Novembro de 2001, Hamid Mir do jornal “Pakistani Daily, The Dawn”, entrevistou Osama bin Laden mesmo antes da queda de Kabul:
Hamid Mir: “Depois dos bombardeamentos Americanos sobre o Afeganistão em Outubro no dia 7, você disse à Al-Jazeera TV que os ataques de 11 de Setembro tinham sido realizados por alguns Muçulmanos. Como é que sabe que eles eram Muçulmanos?
Osama bin Laden: “Os próprios Americanos publicaram uma lista dos suspeitos dos ataques de 11 de Setembro, dizendo que as pessoas nomeadas (na lista) estavam envolvidas nos ataques. Eles eram todos Muçulmanos, 15 dos quais pertenciam à Arábia Saudita, dois eram dos Emirados Árabes Unidos (UAE) e um deles era do Egipto. De acordo com a informação que eu tenho, todos eles eram passageiros. Fatiha foi lida para eles em suas casas. Mas a América diz que eles eram raptores de avião.”
A afirmação de Bin Laden “Fatiha foi lida para eles em suas casas” refere-se à leitura do capítulo da abertura do Alcorão (al-Fatihah) para as almas dos falecidos, uma prática comum dos Sufis. Este acto de adoração não tem base no Islam, nem no Alcorão, nem na Sunnah, ou na prática das gerações predecessoras. Mais precisamente, isto é uma prática inovada que as gerações dos Sufis Muçulmanos fabricaram. Esta afirmação indica que Osama bin Laden nem é versado sobre o Islam, nem é ele ligado aos princípios e às práticas do Salafismo.
– abreviado do livro: The “Wahhabi” Myth (por James Oliver)